Capítulo 5 – Análise Financeira
Alguns indicadores podem usados para avaliar a viabilidade econômica do sistema de geração fotovoltaica, os principais são o Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno (TIR). Esses indicadores ajudam a determinar o tempo até o sistema ser pago e também ajudam investidores a decidirem se o investimento em projetos fotovoltaicos é mais rentável do que outros investimentos.
5.1 Valor Presente Líquido (VPL)
Usando o método VLP, é possível levar em consideração o valor do dinheiro no tempo, uma vez que o dinheiro de hoje não terá o mesmo valor daqui a três anos por exemplo, assim, podemos avaliar a viabilidade econômica de projetos com maiores horizontes de tempo, como é o caso de investimentos em sistemas fotovoltaicos. Nesse método, usa-se a chamada TMA (taxa mínima de atratividade), que pode ser vista como a taxa de retorno mínima que se deseja obter em um investimento alternativo. Normalmente, a TMA é adotada como sendo a taxa de juros que obteríamos se investíssemos em uma aplicação segura, como por exemplo o Tesouro. O VPL de um investimento pode ser calculado com a seguinte fórmula:

Na equação acima, FC0 representa o fluxo de caixa inicial, que é na verdade, o investimento inicial, sendo então um valor negativo. FC1 a FCN são os fluxos de caixa nos períodos seguintes, que podem ser meses, semestres, trimestres, anos, etc. Para que esse conceito fique mais claro, o aplicaremos para o caso de um investimento em um sistema fotovoltaico de 2 kWp, que representa uma geração de energia de 216 kWh/mês.
Esse sistema fotovoltaico representa um investimento inicial de R$ 11.419,00. Os fluxos de caixa dos próximos anos podem ser feitos considerando o valor do kWh a cada ano e considerando que não há gastos com manutenção do sistema, assim, o fluxo de caixa de cada ano será composto apenas de receitas, que serão os valores anuais da energia gerada.

Consideraremos a taxa de juros paga pela aplicação na poupança como TMA, já que essa é a aplicação mais conhecida pelos brasileiros, sendo essa taxa de 4,55% ao ano. Essa taxa pode ser também de algum outro investimento conhecido. A tabela abaixo ajuda a ilustrar os dados necessários.
|
Preço kWh (R$) |
|
|
Ano 1 |
0,65 |
1708,20 |
1633,86 |
Ano 2 |
0,67 |
1746,14 |
1597,46 |
Ano 3 |
0,70 |
1809,19 |
1583,11 |
Ano 4 |
0,73 |
1871,07 |
1566,00 |
Ano 5 |
0,76 |
1931,77 |
1546,45 |
Ano 6 |
0,79 |
1991,39 |
1529,18 |
Ano 7 |
0,83 |
2074,83 |
1524,64 |
Ano 8 |
0,87 |
2156,78 |
1510,82 |
VPL é dado por:

Na análise realizada, o preço do kWh é afetado por uma inflação de 4,5 % ao ano e a capacidade de geração do sistema fotovoltaico diminui a uma taxa de 0,83 % ao ano (valor obtido através de fichas técnicas dos módulos). Uma regra básica para análise financeira de projetos é que, se o seu Valor Presente Líquido for maior do que zero, então deve ser considerado investir no mesmo. Nesse caso, como o Valor Presente Líquido desse projeto resultou em valor maior do que zero, esse investimento vale a pena. É importante notar também que, no oitavo ano, houve um retorno de R$ 1072,52, ou seja, após oito anos o sistema foi pago e retornou pouco mais de mil reais.
5.2 Taxa Interna de Retorno (TIR)
A taxa interna de retorno é um indicador que aponta a taxa de rentabilidade de um investimento. Essa taxa de rentabilidade é calculada com a mesma equação do Valor Presente Líquido e seria a taxa que faria o VPL ser zero, como mostrado abaixo:

 Uma das vantagens da TIR é que ela nos retorna uma taxa que pode ser comparada à Taxa Mínima de Atratividade, assim, caso a TIR seja maior do que a TMA, o investimento pode ser aceito, caso contrário, deve ser recusado.
A TIR é preferida na análise de viabilidade de projetos por fornecer como resultado uma taxa, porém, ela tem algumas desvantagens. Uma das maiores desvantagens é que o fluxo de caixa precisa ser igualmente espaçado no tempo, ou seja, o fluxo de caixa deve ser sempre mensal, trimestral, semestral, etc. Esse indicador também não leva em conta os custos de novos investimentos, ou seja, saídas de caixa após o investimento inicial. Outra desvantagem, que talvez seja a maior, é a impossibilidade de o usarmos com fluxos de caixa que troquem de sinal (que possuam valor positivo num mês e negativo em outro), assim, esse indicador não deve ser utilizado caso sejam previstos fluxos de caixa negativo. No caso de sistemas fotovoltaicos, nenhuma das situações acima ocorrem e podemos utilizar a TIR para avaliar a viabilidade da compra de um sistema fotovoltaico. A equação usada para encontrar a TIR é de difícil solução, mas podemos usar o Excel para este fim. Usando os fluxos de caixa estimados e a função TIR do Excel, obtemos uma TIR de 7%, que é superior à TMA de 4,55% considerada, logo, deve-se considerar o investimento na compra do sistema fotovoltaico.
Tanto o Valor Presente Líquido quanto a Taxa Interna de Retorno indicaram que o investimento deve ser considerado. É importante sempre utilizar mais de um indicador para fazer a análise econômica do projeto, inclusive utilizando outros indicadores como PayBack e ROI por exemplo.
5.3 Financiamento de sistemas fotovoltaicos
Para ajudar a disseminar a geração de energia a partir de fontes renováveis de energia, muitos bancos, tanto privados como públicos, oferecem linhas de financiamentos que podem cobrir até 100% do valor do investimento. Os juros podem variar em cada caso, dependendo do tamanho do sistema e da natureza do cliente (pessoa física ou jurídica) e podem, em alguns casos não conter juros. Abaixo apresentamos alguns modelos de financiamento de sistemas fotovoltaicos.
1) Banco no Nordeste (BNB) – FNE Sol
Essa linha de financiamento é destinada à aquisição de equipamentos voltados à geração de energia por fontes renováveis, incluindo solar, eólica, hidrelétrica e biomassa. Este financiamento atende tanto pessoas físicas quanto pessoas jurídicas. Os juros variam entre 6,5 e 11% ao ano, sendo que o financiamento pode chegar a 100% do valor do sistema.
2) Banco Santander – Linha Sustentabilidade
É destinado a pessoas físicas e jurídicas que tenham ou não conta no banco. Nesse modelo, há algumas opções de pagamento como: 10 vezes sem juros, 24 vezes com juros de 1,1% ao mês e 36 vezes com 1,45% de juros ao mês. Aqui, o financiamento também pode chegar a 100% do valor do sistema.
3) Financiamento BNDES
Este financiamento engloba diversos tipos de clientes, pessoa física, pessoa jurídica, cooperativas, fundações, entre outros. O BNDES executa o financiamento de maneira direta, quando o próprio BNDES assume os riscos da operação, ou de maneira indireta, quando bancos credenciados assumem integral ou parcialmente os riscos. Cada modo (direto ou indireto) possui taxas de juros diferentes que dependem também do risco de crédito de cada cliente. O BNDES financia até 80 % do valor do sistema, o restante fica por conta do investidor.
4) Banco do Brasil
O financiamento através do Banco do Brasil possui duas linhas. A primeira, chamada de FCO (Fundo Constitucional de financiamento do Centro-Oeste) atende empresas que se dedicam à atividade produtiva e também a produtores rurais, cooperativas e associações de produtores rurais. As taxas de juros variam de acordo com o porte das empresas/produtores, estando entre 5 e 10 % ao ano. Nesse tipo de financiamento, é exigida uma garantia de 130 % do valor financiado.
A segunda modalidade é a chamada PRONAF ECO, que é uma linha especial para financiar projetos que diminuam o impactado da atividade rural no meio ambiente. Esse tipo de financiamento pode ser utilizado por produtores familiares assentados pelo Programa Nacional de Reforma Agrária ou beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário. Os juros dessa modalidade são de 2,5 % ao ano e o limite de financiamento é de 165 mil reais.
5) Bradesco – Leasing Ambiental
Nesse financiamento, o banco fará um contrato junto ao interessado, que pode ser pessoa física ou jurídica, e comprará os itens solicitados. Depois dos itens serem adquiridos, o interessado locará os equipamentos por um prazo determinado. Quando o prazo terminar, o cliente terá a opção de ficar com os equipamentos, devolvê-los ou renovar o aluguel. Nesse modelo de financiamento é necessário ser correntista do banco e fornecer uma parcela de 30% do valor total como entrada mínima. O prazo de pagamento é de 60 meses, com juros a partir de 0,99% ao mês. O parcelamento pode ser feito em até 60 meses e o financiamento é isento de IOF.
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